domingo, 21 de outubro de 2012

Poda em citros

Poda já é uma realidade

Os plantios adensados têm gerado uma nova citricultura. As operações de poda têm se tornado imprescindíveis, pois permitem manter alta a produtividade. Conheça mais sobre esta importante técnica.

A poda compreende um conjunto de operações que cortam e suprimem ramos da copa das plantas para modificá-las e adaptá-las às condições de cultivo comercial. Em alguns países produtores de cítricos, a poda é uma prática utilizada havia bastante tempo e de forma corriqueira. Nos países listados, que tive a oportunidade de visitar, todos praticam a poda, resguardadas algumas particularidades: EUA - Estados Unidos da América, África do Sul, Uruguai, Argentina e Brasil. Nos EUA, por exemplo, a poda da árvore cítrica é quase exclusivamente mecanizada e feita lateralmente e no topo das árvores. Até para produção de frutas in natura a poda é mecanizada. Neste caso a poda drástica é recomendada, pois desta forma há uma diminuição no número de frutos por árvore, mas em compensação há um aumento no tamanho e na qualidade do fruto. Na África do Sul a poda acontece de forma mecanizada e manual, embora a fruta também seja destinada ao mercado de frutas in natura. Na lateral e topo das árvores a poda é mecanizada, já na “saia”, a poda é manual. A poda da “saia” da árvore cítrica é feita com o objetivo de não deixar os frutos entrarem em contato com o solo e assim evitar o aparecimento de manchas e danos nos frutos, o que seria indesejável comercialmente. O Uruguai utiliza predominantemente a poda manual, em função de se tratar de variedades mais específicas, como diversos tipos de tangerinas, e onde mais de 90% da fruta vai para o mercado in natura. O refugo é processado para produção de suco. A poda no Uruguai visa diminuir os danos causados por ventos (rameado) e também proporcionar um aumento no tamanho dos frutos. Na Argentina, assim como no Uruguai, a poda manual é bastante utilizada, inclusive pelos mesmos motivos. Mas tive a oportunidade de constatar que também é comum a ocorrência da poda mecanizada. Historicamente aqui no Brasil, a poda era utilizada por grandes grupos e por produtores de frutas frescas, e ainda assim ocorria em pequena escala. No entanto, as dificuldades enfrentadas pelos Citricultores nos últimos anos, levaram-nos a buscar soluções, incluindo entre tais, as otimizações dos pomares, resultando em plantios mais adensados. Este adensamentos têm tornado indispensável a prática da poda. Nos espaçamentos utilizados nos últimos 10 anos, já era imprescindível podar, a partir do 10º ao 14º ano. Nos espaçamentos atuais a operação de poda deverá ser antecipada e ocorrer a partir do 4º ano.

Objetivos da poda


Para que se possa trabalhar com poda é preciso conhecer o hábito de crescimento das variedades de citros. Na maioria das variedades o crescimento ocorre na direção vertical em função da dominância apical dos ramos. Enquanto não for quebrada essa dominância apical, as gemas laterais não brotam, permanecendo dormentes. A dominância apical só é quebrada quando estes ramos se arqueiam devido ao seu próprio peso ou em função do peso dos frutos. Quando isto ocorre as gemas mais próximas da extremidade do ramo começam a brotar com mais vigor, iniciando assim um novo ciclo de crescimento e produção de frutos até ocorrer um novo tombamento. Com este tipo de crescimento vão se formando camadas, onde os ramos de baixo ficam sombreados e acabam secando. Estas árvores acabam perdendo vigor e consequentemente ocorre uma diminuição na produção e qualidade dos frutos. Para minimizar os efeitos acima, recomenda- se a utilização da poda que objetiva:
• propiciar à planta uma armação vigorosa, forte, sólida, constituída por ramos dispostos em forma adequada para suportar o peso da safra, melhorando assim a aeração e a iluminação;
• criar um ambiente desfavorável para a proliferação de pragas e doenças nos pomares;
• conseguir um equilíbrio entre a vegetação e frutificação, assegurando desta forma uma produção contínua, regular e com qualidade comercial;
minimizar efeitos negativos de sombreamento interno na copa e nas árvores vizinhas;
favorecer os tratos culturais.
Na prática, a poda hoje no Brasil deve ser utilizada para obtenção de um maior volume de copa aproveitável possível por hectare, evitando perda da “saia” da planta onde ocorre 2/3 da produção, e permitir maiores adensamentos que resultem em uma maior produtividade por área.

Tamanho de plantas X área de produção de frutos


A produção de frutos nas árvores de citros está localizada onde há maior captação de luz ,ou seja, ao longo de 90cm da copa de fora para dentro. No interior da copa quase não há frutos, servindo apenas para sustentação da mesma, como mostra a figura 1, baseada na publicação “Citrus Tree Pruning Principles and Practices” de D.P.H. Tucker, T.A. Wheaton and R.P. Muraro. Quando da visita técnica do GTACC à África do Sul, obtivemos relatos da produtividade sul-africana de 80 t/ha em plantio médio de 5,00m x 2,00m. Tais números nos causaram espanto e nos deixaram curiosos sobre o porquê de espaçamentos tão adensados. Essa dúvida nos foi esclarecida pelo trabalho de Tucker, Wheaton e Murano. Como podemos verificar, no espaçamento entre plantas de 5,00m, consideramos a área de trabalho de 2,50m onde podemos trafegar com tratores e equipamentos sem dificuldades. Desta forma, restarão então 2,50m do espaçamento, ou seja, 1,25m de raio para crescimento da saia de cada planta que, de acordo com o nosso esquema acima, desconsiderando os 0,35 m de área oca poderá ter 0,90m de área produtiva. Isso nos leva a entender como os citricultores da África do Sul conseguem o máximo de aproveitamento de sua área de plantio, obtendo altas produções/ ha

Época e intensidade de poda
Quando se pensa em poda, outro fator importante a ser considerado é a alternância de safra dos citros. Após um ano de safra alta, ocorre, no ano seguinte, uma queda na safra e com isso a planta tende a vegetar mais, com pouca frutificação. Neste caso a poda pode nos auxiliar pois permitirá um equilíbrio entre vegetação e frutificação, pro- A grande indagação dos citricultores é sobre a época certa para se realizar a poda. Esta deve ocorrer o mais distante possível da “emissão” da florada e “pegamento” dos frutos, preferencialmente após a colheita e no inverno. As variedades precoces não apresentam problemas quanto à época de poda. Nestes casos, como a colheita é realizada em junho e julho, a poda deve ocorrer logo em seguida, e ainda no inverno. Maiores dificuldades apresentam as variedades ‘Folha Murcha’, ‘Natal’ e ‘Valência’, pois se a poda for realizada antes da florada acarretará perdas na safra atual e por outro lado, se for realizada após a florada, ocorrerá perdas na safra futura. Porém, se realizada a poda leve - que é a considerada poda de produção – independente da época ocorrida as perdas não serão significativas podendo até acarretar, em alguns casos, um incremento na produção. A intensidade da poda é outro ponto muito questionado pelos citricultores. A experiência de campo nos mostra que podas severas (lateral e topo) devem ser evitadas, pois causam um excessivo rebrotamento com ramos de crescimento e não de produção. Com isso há uma redução na produção de frutos. Os ramos a serem podados devem possuir diâmetro inferior à 20 mm. Na tabela abaixo podemos observar a influência da intensidade da poda na produção.
Pela tabela 1, conclui-se que podas severas devem ser evitadas, exceto em casos onde o pomar já esteja fechando e dificultando os tratos culturais. Neste caso a poda drástica ou poda de correção é a única alternativa, porém, com conseqüente perda de produção que será recuperada após 1 ou 2 anos desta poda. Pelos dados apresentados acima concluímos também que podas leves podem inclusive aumentar a produção (vide linha 2 da tabela 1). O sucesso da poda dependerá também da freqüência de sua ocorrência.
• Quanto mais espaçadas se realizarem maior será a intensidade e o diâmetro dos ramos eliminados e os custos;
• Esta atividade deve ser iniciada antes da necessidade de podas intensas e em intervalos regulares para manter a planta na forma e no tamanho adequado;
• Combinações vigorosas de copa x portaenxerto devem ser podadas com mais freqüência (anualmente).

Equipamentos de poda

Os equipamentos de poda disponíveis hoje no mercado são basicamente de duas empresas, IFLÓ e KAMAQ. A IFLÓ possui hoje a Star – 3700LT que é uma máquina maior, ideal para pomares não adensados; e a Global que é ideal para pomares adensados. As duas máquinas podem fazer poda lateral e topo. A KAMAQ possui a Kortflex 350, ideal para poda de produção que é uma poda mais leve. Este tipo de equipamento também pode fazer poda lateral e de topo.

Sistemas de poda


Poda Lateral:

• deve ser iniciada logo após a planta invadir a área de trabalho, considerada de 2,50 m (Figura 1);
• quanto a intensidade, recomenda-se podar ramos com diâmetro inferiores à 20 mm;
• feita anualmente, ela é uma opção em função do vigor da planta, do tipo de solo e da nutrição;
• os ângulos de corte devem ficar entre 10º e 15º.
Ângulos menores permitem um rápido enfolhamento e re-brotamento nas partes superiores das plantas, provocando perda de saia. Ângulos maiores que 15º podem causar um grande desfolhamento na planta com redução de produção.

Poda de Topo:


• normalmente é realizada após a poda lateral;
• deve seguir os mesmos parâmetros da poda lateral com relação a intensidade da poda ( diâmetro < 20 mm );
• permite melhorar a incidência de luz na área produtiva da copa se mantida a altura da planta com no máximo, o dobro do comprimento da área de trabalho, para evitar sombreamento e perda de saia onde ocorre 2/3 da produção;
• a freqüência deve variar de 2 a 3 anos;
• o ângulo de corte deve variar de 0º a 45º.
O custo da poda é variável em função do tipo de equipamento utilizado, espaçamento do pomar e intensidade da poda, mas em geral o custo médio fica em torno de U$ 0,16 por planta. Após a poda é recomendado um tratamento de recuperação energética da planta com macro e micro nutrientes, além de uma pulverização com Cobre para proteção da planta.

Conclusão

A necessidade de aumentar a produtividade por hectare e também de minimizar os custos de produção, tem gerado uma nova citricultura com plantios cada vez mais adensados. Desta forma, as operações de poda lateral e topo têm se tornado imprescindíveis, pois elas permitem o manejo do tamanho e da forma das árvores em busca da manutenção do equilíbrio entre vegetação e frutificação, para obter uma boa produtividade com frutos de qualidade. Tal equilíbrio é desejável, pois evita alternância de safras propiciando boa produtividade por um período

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