sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Empreender é ter brilho nos olhos


regina Para se tornar empreendedor, a grande motivação deve ser o seu projeto. É ele que deve fazer o seu olho brilhar. E foi exatamente o sonho de desenvolver pessoas que levou Regina Camargo, sócia-diretora da Across, deixar uma carreira de 12 anos na DuPont para abrir, em 1997, sua própria empresa de recrutamento e seleção de jovens, a Across.
Em entrevista ao Movimento Brasil, Regina conta como foi esta transição e de que forma descobriu seu sonho e os resultados que têm conquistado nestes 14 anos. À frente da Across, Regina se orgulha dos números que a empresa já conquistou: 50 funcionários internos,  250 clientes; 300 profissionais treinados em coaching; 25 mil profissionais treinados em workshops; mais de 10 mil candidatos avaliados presencialmente; mais de 1,5 milhão de inscrições e mais de 50 mil candidatos avaliados presencialmente.
A própria DuPont foi o primeiro cliente da executiva. Depois vieram as parcerias com a Global Novations, renomada consultoria norte-americana com experiência e atuação na área de carreiras e outra parceria com a Educartis, que oferece metodologia para seleção de jovens.
Movimento Brasil: Depois de uma carreira sólida de 12 anos na DuPont, o que te motivou a ser empreendedora?
Regina Camargo:
Minha carreira na DuPont teve dois momentos. O primeiro foi marcado por um início de atividades na função de secretária. Nesse período, posso citar dois momentos importantes. O primeiro foi quando recebi o projeto de organizar uma reunião de três dias com os principais líderes e executivos da DuPont da America Latina. Tive bastante exposição, o que aumentou minha visibilidade junto à alta liderança. O segundo momento foi um projeto para estudar a eficácia do trabalho das secretárias. Fiquei responsável por fazer um estudo para entender melhor os papéis e responsabilidades das secretárias da DuPont e recomendar oportunidades de melhoria. Como consequência deste estudo, um grupo com as principais secretárias da empresa foi formado e iniciativas de crescimento começaram a ser desenvolvidas com este grupo.
Em um segundo estágio, em 1991, o meu maior foco se voltou para a área de treinamento e desenvolvimento, o que incentivou meu interesse na transição de carreira. Eu havia estudado Língua e Literatura Inglesas na PUC-SP e quando fui transferida para a área de RH achei que era importante complementar a minha formação. Iniciei o curso de Psicologia em 1992 e terminei em 1996. Em RH fiz o caminho inverso: primeiro em desenvolvimento e depois em recrutamento. Comecei a perceber que havia uma possibilidade muito grande pra desenvolver pessoas na seleção, com foco na metodologia e no feedback. Meu projeto empreendedor teve início na própria DuPont, quandoa diretoria sugeriu que eu terceirizasse a área e os atendesse por um ano com exclusividade. Isso me daria segurança para buscar outros clientes no futuro. Tive total apoio e como empreender já era um sonho, abracei a ideia.. Foi o primeiro e grande desafio da Across.
Movimento Brasil: Quais os resultados conseguidos no primeiro projeto da Across com a DuPont como cliente?
Regina Camargo:
Nós ficamos responsáveis pelo Recrutamento e Seleção de todas as posições da DuPont durante o ano de 1997. Ao final do ano fizemos uma reunião com a diretoria de RH da América Latina e ela comentou conosco que estavam muito satisfeitos com o trabalho realizado, principalmente pela qualidade. Ainda em 97 iniciamos um trabalho na área de Desenvolvimento em toda a América Latina, apoiando a DuPont na implementação de um processo de Reflexão de Carreira, que utilizava a metodologia da Global Novations -  empresa com sede em Boston e que foi fundada por dois antigos professores de Harvard.  Nesse projeto de Reflexão de Carreira conduzimos 20 workshops, treinando aproximadamente 350 pessoas em toda a América Latina. Nesse ano de trabalho exclusivo para a DuPont foram contratados em regime efetivo 35 profissionais e 43 estagiários.
Movimento Brasil: O que você considera como diferencial no modelo de gestão da Across?
Regina Camargo:
Hoje a Across se posiciona como especializada na gestão estratégica de pessoas. Apoia a área de atração, mas o grande diferencial é o enfoque em desenvolvimento. No final de 1998 fizemos uma parceria com a Global Novations e o referencial metodológico é dos conceitos da parceira. Fazemos a concepção de desenvolvimento de carreira, levando em conta os aspectos conectados da empresa e do funcionário. Além de identificar jovens para serem trainees,por exemplo, nós ajudamosa a empresa a estruturar o programa e a consolidar a gestão de desempenho.
Movimento Brasil: Que resultados e vantagens a parceria com a Global Novations trouxe para a Across? Como essa parceria impactou na conquista de clientes?
Regina Camargo:
Essa parceria foi muito importante porque passamos a expandir nosso portfólio da área de seleção para desenvolvimento. A Global Novations é uma empresa fundada por Paul Thompson e Gene Dalton, antigos professores de Harvard e que desenvolveram todo um conceito sobre como as carreiras se desenvolvem. A empresa já tinha vários clientes na época do início da nossa parceria, especialmente nos EUA. Esse conceito metodológico, experiência e carteira de clientes certamente
Movimento Brasil: Quais as maiores dificuldades enfrentadas no início da empresa? O que a fez superar essas dificuldades?
Regina Camargo:
No início da empresa éramos cinco pessoas: três sócios (atualmente somos dois: eu e o Geraldo Gianiselo), uma secretária e um office-boy. Os três sócios nunca haviam empreendido antes. Nossas experiências tinham sido em grandes corporações. Nós tínhamos a vantagem de ter um cliente exclusivo no primeiro ano, mas o desafio era entregar os projetos desse cliente exclusivo e conquistar novos clientes, pois já sabíamos que não teríamos essa exclusividade no segundo ano. Tivemos que trabalhar muito, dividir o trabalho de recrutar e selecionar com o trabalho de estruturar e vender a empresa para novos clientes e, à medida que novos projetos começaram a surgir, nós fomos gradativamente aumentando a equipe.
Movimento Brasil: Em algum momento você chegou a pensar em desistir?
Regina Camargo:
Não, nunca pensamos em desistir. Tivemos dificuldades, mas nunca a ponto de pensarmos em fechar o negócio.
Movimento Brasil: Você acredita que a gestão feminina nesse segmento de RH é um diferencial favorável? Por quê?
Regina Carmargo:
Ser mulher ajuda a ter uma conexão com o próprio tema, que requer sensibilidade, pragmatismo e intuição. Mas não sei se essas características são do gênero feminino ou de qualquer empreendendor. Acredito que o meu lado empreendedor de querer inovar na forma de realizar a seleção e desenvolvimento de pessoas, fale mais alto. Ser empreendedor não é só criar algo novo. Muitas pessoas desistem porque pensam: “ah, isso alguém já fez”. Mas o que se deve pensar é que você pode fazer de outra forma e melhor.
Movimento Brasil: Nos últimos 20 anos os cargos disponíveis na média gerência foram muito reduzidos. Qual a implicação disso no perfil do médio gerente hoje? A seleção é mais desafiadora?
Regina Camargo:
Meu feeling é que um dos mobilizadores dos jovens para cobrir uma defasagem que existe entre os iniciantes e os sêniores é o processo de crescimento rápido. No entanto, não há um cuidado com a formação das pessoas. E isso vale tanto para alta demanda de trainees como para o desenvolvimento de líderes. As empresas aceleram o processo e não conseguem formar esse profissional. Acredito que seja necessário um grande investimento em desenvolvimento de lideranças. O próprio gestor deve reconhecer o potencial de um jovem e investir na sua formação.
Movimento Brasil: Qual é o perfil que as empresas buscam para a média gerência? Os interesses das empresas e dos profissionais têm se afinado ou existe um conflito?
Regina Camargo:
Não existe a pessoa perfeita. Tanto a empresa, quanto o profissional, idealiza um perfil perfeito. Ambos precisam ser mais cuidadosos. Para evitar erros, o processo seletivo não pode ser rápido. O processo requer uma aproximação mútua, diferentes conversas e, da parte do candidato, pesquisas sobre a empresa. A ansiedade de tomar a decisão atrapalha e uma contratação mal feita é ruim para todos.
Movimento Brasil: Quem é o mais indicado pra assumir a função de média gerência: o coordenador/chefe da equipe interna que já trabalha na empresa ou alguém de fora?
Regina Camargo:
O desejo das empresas é formar pessoas internamente e fazer com que cresçam em uma cultura conhecida. Os resultados são mais rápidos e melhores quando se consegue isso, mas é preciso criar um processo. Vivemos em um mercado aquecido e muitas vezes se precisa buscar um talento fora. Eu acredito que o melhor caminho é interno, mas nem sempre isso é possível.
Movimento Brasil: Como a Across lida com a busca de talentos da geração Y? Isso tem sido uma dificuldade?
Regina Camargo:
Existe um investimento alto nas organizações para a contratação de jovens talentos. O primeiro desafio é atrair os jovens e o segundo é fazer com que ele permaneça na organização. O que incentiva um jovem talento a formar uma carreira dentro de uma empresa é a gestão. A liderança tem sido um fator importante na retenção de talentos e as empresas precisam escolher os melhores gestores para formar o futuro.
Movimento Brasil: E as redes sociais têm sido uma boa ferramenta para recrutamento e seleção? Qual a sua visão?
Regina Camargo:
Estamos no mundo das redes sociais e não tem como voltar atrás. Na Across criamos comunidades para seleção de jovens porque eles estão lá e não tem outra forma de encontrá-los. É uma grande ferramenta e a ainda precisamos aprender a extrair todos os benefícios dela.
Movimento Brasil: O que importa mais no momento de escolher um líder: um perfil conciliador ou um que ofereça melhores resultados?
Regina Camargo:
Os dois se completam. O melhor perfil é o focado no resultado, mas que saiba engajar as pessoas. A melhor liderança deve ter visãoe  equilíbrio entre os dois pontos.
Movimento Brasil: Que dica você daria para quem quer ser empreendedor?
Regina Camargo:
Se o que te motiva é ter nmais tempo ou mais equilíbrio, pense bem. Todos os seus clientes serão seus chefes. Há uma visão deturpada do empreendedorismo como uma vida mais tranquila. Na verdade você trabalha e se dedica muito mais.O diferencial é que o projeto é seu. O que deve te motivar é o projeto em si, sua realização. O seu sonho tem que valer mais que tudo que você faz atualmente.
Movimento Brasil

Nenhum comentário: