terça-feira, 26 de abril de 2011

Conexões para o sucesso

Conexões para o sucesso

As pessoas estão mais conectadas do que nunca por meio das redes sociais, mas o networking continua negligenciado. Saiba por que essa prática é crucial para a carreira

Vanessa Vieira (undefined)  10/01/2011
Crédito: François Calil, ilustrações Cássio Bittencourt
Receitas atraentes Para LUCIANO LACERDA, de 38 anos, CEO da Totvs Goiás, de Goiânia - Crédito: François Calil, ilustrações Cássio Bittencourt
Receitas atraentes Para LUCIANO LACERDA, de 38 anos, CEO da Totvs Goiás, de Goiânia
Networking ajuda até quem não precisa dele. Estrelas de cinema, por exemplo, têm uma rede de contatos própria e se benefi ciam dela, apesar de pensar no assunto mais como consequência da fama do que um hábito a ser cultivado, como fazem mortais como nós. Um estudo da University of Southern California mapeou 7 000 pessoas presentes em 12 000 eventos, como préestreias, festas e vernissages ao redor do mundo.

A conclusão: as 20 maiores estrelas de Hollywood, como Brad Pitt, Angelina Jolie e Tom Hanks, se encontram sempre nos mesmos eventos, o que ajuda a reforçar a condição de megacelebridade que eles têm.

O estudo traz a moral da história para os mortais: não é preciso estar entre os 20 profi ssionais mais notórios de seu mercado, mas é fundamental para a carreria conhecer pessoas que estão na rede de contatos deles. Por quê? Porque são esses profi ssionais um pouco abaixo da linha do estrelato que os headhunters e as companhias procuram.

São os talentos que ainda não têm o reconhecimento máximo, embora claramente tenham realizações e façam networking com quem importa. "O sucesso de um profi ssional se apoia em três pilares: competência, sorte e uma boa rede de contatos", diz Adrian Tsallis, sócio-diretor da 2Get, empresa de executive search, que tem sede em São Paulo.

"Negligenciar o networking signifi ca menosprezar um fator que está totalmente sob o seu controle." Nunca foi tão fácil, como hoje, fazer networking. As redes sociais, os smartphones e os notebooks garantem comunicação efi ciente em qualquer tempo e lugar.

Com eles, fi cou fácil encontrar uma pessoa, entrar em contato e iniciar um relacionamento profi ssional. Mas, apesar da alta conectividade do mundo, boa parte dos profi ssionais ainda descuida da construção e manutenção de sua rede de conhecidos. Uma parcela da culpa, apontam especialistas, está na própria tecnologia. As pessoas substituíram parte do que faziam pessoalmente, no café do corredor da empresa ou na happy hour, por interações digitais, como MSN, Twitter, Facebook ou Blackberry.

A tecnologia é ótima, desde que não perca em profundidade. "O contato virtual pode anteceder ou suceder o encontro pessoal, mas nunca terá o poder de substituí-lo", diz José Augusto Minarelli, sócio da Lens & Minarelli, consultoria de recolocação de executivos de São Paulo. Mas o fato é que o hábito de sentar e conversar com as pessoas e criar vínculos consistentes está sob ameaça. A questão é mais séria entre jovens.

Algumas companhias já detectaram que alguns profi ssionais que ingressaram no mercado de trabalho recentemente têm maior resistência a situações como chamar o chefe para conversar e menos habilidade para tecer os laços do networking efi ciente. "Só existe networking se você cria um vínculo com as pessoas que conhecer, se elas se lembrarem de você quando telefonar para elas", afi rma Marcelo Cuellar, headhunter da consultoria Michael Page, do Rio de Janeiro. Os mais velhos levam vantagem com relação ao tipo de relacionamento que têm com seus pares, pautado por um maior grau de intimidade.

Em contrapartida, não costumam se sentir confortáveis em buscar o relacionamento com pessoas desconhecidas e não têm o hábito de usar ferramentas tecnológicas para registrar e organizar sua lista. Seja pela sobrecarga de trabalho, seja pela acomodação, muitos negligenciam a rede de contatos. A partir de certa idade, cultivar relacionamentos é ainda mais crítico para uma recolocação profi ssional. "Esse público não dedica tempo para essa atividade quando está empregado", diz Adrian Tsallis.

Os especialistas alertam que o networking não é uma prática momentânea, que se encerra após a listagem e a organização de uma série de contatos. Fazer networking é uma atitude que exige a convivência e traz benefícios para todas as partes. "Você se relaciona onde quer que esteja: na fi la do banco, no lançamento de um livro, numa ONG, em palestras, na cozinha trocando receitas ou até na porta da escola dos fi lhos", diz José Augusto Minarelli. Mas como aproveitar essas oportunidades para construir um networking efi - caz? A questão, então, é buscar o networking correto, que use a tecnologia de maneira inteligente para desenvolver relacionamentos reais e de benefícios mútuos fora da web.

Receitas atraentes

Para LUCIANO LACERDA, de 38 anos, CEO da Totvs Goiás, de Goiânia, até mesmo ao praticar atividades de lazer é possível fazer contatos. Durante um curso de culinária, hobby que cultiva, ele conheceu o dono de uma companhia com a qual estava tendo dificuldades para fechar um negócio.

"Era um contrato estratégico para nós, mas o cliente estava propenso a fechar negócio com a concorrência." Após esse contato informal, Luciano pediu ao empresário uma oportunidade para fazer outra apresentação de seu produto ao departamento responsável. "Depois disso, nós conseguimos convencer os executivos da empresa dele de que nossa solução era melhor e ganhamos o contrato", conta.


O PASSO A PASSO DAS REGRAS DA VIDA EM REDE

1 CONTABILIZE SEU CAPITAL SOCIAL
Mesmo quem não pratica o networking de forma consciente tem sua rede de relacionamentos. Para saber o tamanho dela, comece a listar seus contatos — amigos, parceiros de trabalho, ex-chefes. Pesquise agendas novas e antigas, cartões de visita, fotos, convites de formatura e e-mails trocados.


2 NÃO MIRE SÓ O ALTO
Não selecione apenas profissionais de cargos altos para sua rede. Procure pessoas que estão na mesma posição que você, com desafios semelhantes. Isso vai favorecer a ajuda mútua e o acesso a informações relevantes para o seu posto.

3 ORGANIZE-SE
Transcreva tudo o que souber ou vier a descobrir de seus contatos e das pessoas que gostaria de adicionar à sua rede. Nome completo, aniversário, telefone, endereços físico e eletrônico, além de informações que podem ajudá-lo a retomar o contato em ocasiões futuras. "Isso o auxiliará a ser atencioso e não dar foras, trocando nomes ou se esquecendo com quem está falando", diz José Augusto Minarelli, da consultoria de recolocação Lens & Minarelli.

4 SEJA PROATIVO
Tome a iniciativa de fazer visitas, telefonar, marcar encontros. Aproveite oportunidades de convivência: frequente de vez em quando happy hours de trabalho, participe de palestras e cursos de atualização na sua área. Nesses eventos, também vale a pena identificar outras pessoas que estão sozinhas e puxar conversa. Se não puder comparecer, mande um e-mail agradecendo o convite.

5 COMO ABORDAR UM CONTATO NOVO
Uma boa estratégia é pedir para um conhecido em comum que faça a apresentação. Se não houver um intermediário, procure se informar com antecedência o máximo possível sobre as atividades do seu alvo. Assim, vai ficar mais fácil puxar conversa comentando sobre algo que lhe chamou atenção no blog dele, numa entrevista que ele deu ou mencionando que tem acompanhado o trabalho dessa pessoa. Outra estratégia é citar pontos de convergência, como amigos ou interesses em comum.

6 E PELA INTERNET?
Numa rede social, nunca convide um desconhecido apenas para aumentar o tamanho da rede. Se for fazer um primeiro contato virtualmente, escreva uma introdução ao seu convite. De forma resumida, envie uma mensagem e explique por que gostaria de adicionar aquela pessoa e peça permissão. Se tiver e puder mencionar conhecidos em comum, melhor ainda. Depois, procure a pessoa para marcar uma conversa e se apresentar pessoalmente.

7 AS MELHORES REDES SOCIAIS
Para pesquisar contatos, montar e organizar sua rede, o LinkedIn costuma ser a ferramenta favorita. Ele facilita a busca por perfis profissionais e segmentos, já que os participantes podem compartilhar seus currículos. O Twitter permite um jeito ágil de cultivar sua rede, porque os posts curtos não consomem tanto tempo e existe um clima de abertura para as pessoas se comunicarem. O Twitter também pode aumentar sua visibilidade e atrair novos contatos, pois há a possibilidade de encaminhar os posts para terceiros por meio dos membros de sua rede. Para quem você já conhece, o MSN é ótima forma de manter-se no radar. Puxe conversa rápida, pergunte o que o outro anda fazendo.


8 É DANDO QUE SE RECEBE
O networking é um jogo em que todos ganham, portanto, não use sua rede apenas em benefício próprio — retribua. Para contar com o apoio dos demais num momento de necessidade, esteja disponível para ajudar, mesmo aquelas pessoas que não integram diretamente a sua rede. Procure responder às dúvidas dos colegas, dê sugestões de como solucionar o problema, faça a ponte entre duas pessoas. Sua atitude positiva é um investimento de longo prazo. "Faça pelos outros o que gostaria que fizessem por você", orienta Marcelo Cuellar, consultor da Michael Page.

9 SEJA REFERÊNCIA
Ter um blog ou difundir informações por meio do Twitter são boas formas de atrair pessoas que se identificam com o que diz. Se você se sente capaz de produzir conteúdo de qualidade sobre a atividade que exerce, pode se transformar em referência em determinado assunto, ganhando credibilidade e visibilidade.


10 AO VIVO É MELHOR
Num mundo altamente conectado, é fácil cair na tentação de cultivar o networking somente pelos meios eletrônicos. De fato, os sites de relacionamento e as comunidades virtuais facilitam nossa vida e agilizam a comunicação, no entanto, não substituem o contato pessoal . Um networking eficiente tem a ver com a intensidade do vínculo que você cria com as pessoas, o que se faz com convivência e diálogo.

Nesse sentido, o contato mantido pelos meios eletrônicos tende a ser mais rápido e superficial . Resumindo: o networking pode até começar no mundo virtual , mas em algum momento tem de passar para o mundo real . Vale analisar o que acontece nos processos de recrutamento. "Embora haja cada vez mais etapas não presenciais, como testes online e envio de cases, nenhuma contratação é fechada sem uma entrevista ao vivo", diz Adrian Tsallis, da consultoria 2Get.

11 VOLTE ÀS AULAS
Alguns cursos, principalmente os de pós-graduação, costumam reunir profissionais que já estão atuando no mercado, o que pode ser uma boa forma de conhecer pessoas importantes na sua área e desenvolver um vínculo forte com quem está em pleno crescimento profissional. Além disso, muitas instituições têm associações de ex-alunos que mantêm vivo o relacionamento entre eles depois do fim do curso.

12 REFORCE SUA REDE
Oferecer-se para dar palestras em associações e entidades que reúnem profissionais do seu segmento, mesmo que sem receber nada por isso, é uma boa forma de ganhar visibilidade e fazer novos contatos. "Uma situação assim, em que você está ensinando algo, inverte o jogo e faz as pessoas se aproximarem de você", diz Karen Mascarenhas, consultora da DBM.

De acordo com ela, a orientação vale até para quem não tem uma experiência longa. "Nesse caso, é bom dividir algum conhecimento que você tem em outra área. Se você possui habilidade em produzir comerciais ou em informática, pode palestrar sobre como promover um negócio usando as diferentes mídias. O importante é criar as oportunidades", diz Karen.

13 VALORIZE SEU PASSE
Mesmo que esteja precisando de trabalho, não implore nem transfira aos demais a tarefa de conseguir uma colocação para você. Uma atitude desesperada só desvaloriza seu passe. Uma forma simpática de entrar no assunto é pedir a seu contato um conselho ou uma sugestão de quem procurar. Pergunte o que ele faria em seu lugar. Isso pode abrir caminho para que a pessoa se ofereça para recomendá-lo a alguém. Informe que saiu da empresa e deixe claro que tipo de vaga está buscando. O que tem de ficar nas entrelinhas é que você ainda pode ser útil para quem o ajudar.


Networking rumo à presidência
LEONARDO FIGUEIRÓ, de 33 anos, presidente do World Trade Center em Belo Horizonte, aprendeu a fazer networking quando era trainee na Câmara Americana de Comércio de São Paulo (Amcham). Sua função era organizar eventos e convidar líderes corporativos e políticos para as palestras e seminários da Amcham.

O capital social que conquistou fez com que chegasse ao posto de gerente de unidades regionais, com a missão de mobilizar empresários Brasil afora para instalar novas filiais da câmara em Brasília, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador e Uberlândia. A facilidade que tem para conhecer gente por meio do networking lhe rendeu o emprego atual, cuja função é reunir empresários para que façam novos negócios. Em dois anos, já conquistou 400 sócios para o projeto. "Da mesma forma que um gerente de banco é valorizado por sua carteira de clientes, um executivo leva, para onde quer que vá, sua rede de contatos. Quando você faz um relacionamento benfeito, é só dar um telefonema e as portas se abrem."

A ETIQUETA DO NETWORKING

NÃO ULTRAPASSE OS LIMITES

O tom formal ou informal para conversar com seu contato depende do cargo, do grau de intimidade e do vínculo que você tem com ele. Com pessoas do mesmo nível, pode haver maior informalidade. Com quem está mais no alto, prevalece o tratamento formal.

PERSONALIZE OS CONTATOS
Não mande e-mails em formato mala-direta, com destinatários múltiplos e texto-padrão. Essas mensagens costumam receber menor atenção dos interlocutores e muitos deles podem nem responder. Escreva para uma pessoa de cada vez, de preferência retomando antigas conversas e relembrando pontos em comum. Um e-mail personalizado costuma despertar maior interesse e ser respondido com maior cuidado.

E AS MULHERES?
Mulheres também podem convidar colegas para almoçar. O segredo, para evitar confusões, é ser explícita nas intenções do convite. Deixe claro por que você está fazendo o convite e de que assunto pretende tratar na ocasião.

CUMPRIMENTE
Não perca a oportunidade de cumprimentar seus contatos por mudança de emprego ou aniversário. Esse pequeno gesto demonstra atenção e ajuda a cultivar a rede.

AGRADEÇA A QUEM O AJUDOU
Depois de receber uma indicação que teve bons resultados, dê um retorno a quem o ajudou, contando o desfecho da situação. Com o simples ato de agradecer, você faz a pessoa se sentir bem. Se a ajuda resultou numa recolocação, não se esqueça de atualizar a pessoa sobre seus novos contatos e endereço de trabalho.

Choque e retomada
DÉBORA BUENO CARNIEL, de 44 anos, gerente de risco da construtora Galvão, só se deu conta do quanto cuidava mal de sua rede de relacionamentos quando perdeu o emprego no início de 2010.

Durante um processo de recolocação, foi orientada a retomar contatos profissionais. Fez uma lista de conhecidos, marcou conversas e cafés nos quais falava sobre seu momento de carreira e de suas realizações. Seus contatos a indicavam para outras pessoas. Débora adotou o LinkedIn e começou a fazer novos contatos por meio da rede social. Em três semanas, conseguiu novo emprego por meio de um curso de graduação na área de seguros. Em quatro meses, foi convidada para integrar uma consultoria de risco. Mais três meses e foi contratada pela Galvão, onde está empregada desde setembro. "Meus contatos foram se multiplicando e a rede começou a trabalhar por mim", diz Débora. "Passei a ser indicada por pessoas que nem conheço."

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