As oportunidades aparecem para quem está preparado, e precaver-se
para uma situação indesejada como uma demissão muitas vezes envolvem
reforçar as suas características que podem impulsionar sua próxima
promoção ou o surgimento de uma nova vaga de seu interesse.
Muitas das situações que levam a uma demissão estão além do poder de
influência de qualquer empregado – dificilmente dá de evitar perder o
emprego quando a empresa fecha as portas, por exemplo. Mas na maioria
das outras, algum gestor acaba tendo de fazer a terrível escolha:
quem vai para a rua primeiro?
Existe uma série de características que você pode buscar e que podem
afastá-lo do topo da fila do facão, ao menos sob o ponto de vista de boa
parte dos gestores éticos e responsáveis. E o melhor: a maioria delas
também coloca você em posição de vantagem para procurar nova
oportunidade, ou para promoção caso a crise não se confirme.
As medidas propostas são mudanças de comportamento, e só terão efeito
preventivo se surtirem efeito (e forem percebidas) a tempo. E se você
pensa que isso não é grande consolo na situação internacional corrente,
pense no quanto é pior a situação de quem vai concorrer na mesma fila
contra essas pessoas que têm algum diferencial a seu favor.
Como não estar no caminho do facão
Mesmo o funcionário mais exemplar da empresa pode se deparar com situações em que uma falência, fusão, aquisição ou fechamento de filial levem ao desaparecimento do seu emprego atual.
O alvo das 5 dicas a seguir não é estar apto a não depender em nada
do seu emprego atual. Estamos falando de medidas relativas, que reduzam o
choque após uma eventual demissão, e facilitem a busca de uma nova
colocação – com o bônus adicional de que elas podem ampliar suas
oportunidades de promoção.
1. Capriche na postura profissional
Lembre-se de que
existem comportamentos que ajudam você a ser levado mais a sério como profissional.
Mantenha a palavra, cumpra o que anuncia, saiba o limite entre a vida
profissional e pessoal (sua e da equipe), não dê desculpas
esfarrapadas, mantenha a atitude. Desenvolva a sua influência, sem
recorrer à autoridade, e saiba como
não ser vítima da política do seu escritório.
Na hora fatídica em que seu superior for chamado a reduzir em 25% a
despesa dele com pessoal, ele não vai considerar apenas a produção de
cada um, ou o quanto é importante a tarefa que cada um desempenha.
Se o gestor for bom nisso, ele vai parar para pensar na qualidade da
interação do grupo que restará após a saída dos demais, e aí são as
atitudes e a forma de se relacionar com os colegas que contam. Não é
absolutamente necessário se destacar como um líder, mas por motivos
óbvios você deve evitar ser apagado (“não fará falta pra ninguém”) ou
detestado (“vão até comemorar”).
2. Fortaleça e expanda seu círculo de contatos – antes de precisar
Um sábio conselho, que ouvi há tempo, acredito e pratico, é que
a melhor forma de obter um bom emprego é ter amigos bem empregados.
O chamado
networking
funciona bem, mas só para quem se dedica a ele também quando não está
precisando, e desde que não o use como se fosse outro nome para
falsidade e chatice por interesse.
Manter contato é fácil e pode ser até bastante espontâneo, envolvendo
lembrar do aniversário dos amigos e mandar mensagens pessoais (nada de
mensagens enlatadas no Facebook!), um telefonema ocasional, um e-mail
curto e original a cada 3 ou 4 meses, e uma agenda de contatos bem
organizada.
Fazer cursos e participar ativamente da sua comunidade local e
profissional também são maneiras de expandir seu círculo de contatos,
mas não pense que simplesmente obter uma lista com os telefones e
e-mails de todos ao final da reunião já conta a seu favor. É preciso
usá-la tratando cada integrante individualmente.
Assim, você não vai se ver na situação terrível de se ver sem ter a
quem recorrer para obter indicações e dicas na hora em que precisar
procurar trabalho, e nem vai fazer aquelas ligações chatas que ninguém
gosta de receber, de pessoas que não nos procuram há 20 anos, e só
surgem quando têm um problema.
O ideal também é acompanhar ativamente os eventos (mesmo online) da
profissão em que você atua, buscando fortalecer contatos com pessoas da
mesma atividade que atuem em outras empresas (do mesmo ramo ou não),
parceiros, fornecedores, consultores.
No caso das organizações maiores, é possível fazer isso até
internamente. Se sua empresa tiver CIPA (comissão interna de prevenção
de acidentes), brigada voluntária de incêndio, clube do livro ou outras
atividades não-remuneradas e voluntárias, considere esta razão a mais
para participar, e se possível integrar a diretoria – especialmente se
não houver fricção política contra a administração da empresa. Se você
fizer bem-feito e com foco na sua carreira, isso faz o seu nome aparecer
localmente, abre caminhos e oportunidades, e ainda pode ser um item a
mais no seu currículo.
3. Mantenha atualizado seu currículo
E não é pelo motivo que você pensou: sair distribuindo currículos
imediatamente no dia seguinte ao da demissão nem é algo que você deveria
fazer.
A razão de manter atualizado o seu
currículo
é que assim você fica sempre consciente sobre quais são seus
diferenciais e o quanto você é um profissional atualizado. Recomendo
revisões trimestrais!
Tenho visto recentemente vários casos de profissionais que
subitamente precisaram procurar emprego, e só aí foram perceber que não
faziam nenhum curso há 12 anos, não eram especializados em nada, suas
experiências profissionais dignas de menção eram sobre práticas há muito
descontinuadas, e as habilidades que os levaram a ser contratados para o
seu emprego anterior hoje têm pouco valor.
Começar a manter atualizado o currículo pode evitar esta surpresa na hora errada, pois estimula a encontrar o que mencionar.
Para ter o que dizer no seu currículo, além de procurar se envolver
em projetos e atividades profissionais relevantes, você pode participar
do centro comunitário, de alguma ONG ou de iniciativas que possam tirar
proveito das suas aptidões, e nas quais você possa desempenhar algum
papel cujo valor seja evidente num contexto profissional (como bônus,
assim você também pode aumentar seu
networking, além do óbvio benefício de contribuir com a sua comunidade).
Em complemento, procure fazer cursos de extensão (mesmo que online e
gratuitos, mas registre provas de sua participação, e prefira os de
instituições reconhecidas), aprenda algo que o mercado valoriza (como um
idioma, informática, estatística, técnicas de vendas, resolução de
conflitos, matemática financeira, ou o que for) ou dê um jeito de obter
uma graduação ou pós-graduação – hoje dá para fazer isso até via
Internet.
Em paralelo, para que seu nome apareça no Google associado a algo
profissional, uma forma simples é participar ativamente de grupos ou
comunidades relacionados à sua profissão, ou buscar contribuir com
revistas ou sites da área.
4. Pé de meia: Forme sua reserva financeira
Quem tem reservas que permitam reduzir o baque financeiro da
interrupção dos salários amplia sua capacidade de assumir riscos no
trabalho, resistir a
conflitos éticos e ao
assédio moral, e desenvolver várias outras características que podem ajudar seu atual empregador a manter-se interessado em você.
Para este tipo de situação, investimentos de baixa liquidez (como
terrenos, por exemplo) podem não ajudar muito. O ideal é planejar a
longo prazo para sempre ter condições de tornar imediatamente
disponíveis, ou facilmente conversíveis, recursos em dinheiro
equivalentes a 3 meses do seu salário líquido, para ter segurança de que
as contas continuarão sendo pagas normalmente no primeiro mês, e que um
eventual aperto de cintos posterior possa ser feita com razoável grau
de controle.
Se você tem investimentos sem liquidez, pense em futuramente
converter uma parte deles para uma alternativa como a descrita acima,
mesmo que ela renda bem menos que o restante.
Se você não tem nenhuma poupança, essa pode ser uma razão a mais para começar o fundo de reserva, e dessa vez a sério.
Buscar ter uma fonte de renda adicional na família também conta a
favor do mesmo objetivo. Há várias possibilidades: aluguel de um imóvel,
prestação de serviços (que não concorram nem interfiram no do
empregador!), o salário de outro familiar, revenda de produtos,
dividendos e tantos outros. Nenhum é fácil ou rápido de obter, mas são
fatores importantes de segurança profissional, e podem ser o pára-quedas
necessário na hora do aperto. Na hora de escolher seus investimentos,
considere este fator quando for definir seu mix.
Se a crise chegar, abrace os momentos difíceis
Resiliência é o nome dado à característica dos profissionais que
mantêm seu desempenho e capacidade de operar, mesmo nos momentos de
crise.
Um traço que eles têm em comum é que não vão para o canto e ficam
reclamando que isso é injusto, é errado, não devia ser assim, etc. Eles
encaram a mudança e buscam adequar seu papel (e suas habilidades e
pontos fortes) a ela.
Se sua empresa estiver passando por um momento muito complicado, e
especialmente se a responsabilidade por isso não for sua, sua filial
subitamente tiver que receber a carga de trabalho de outra que fechou,
ou subitamente diversos recursos deixarem de estar disponíveis, e a
carga de trabalho de todo mundo aumentar, não seja um dos que vão para o
canto resmungar – reveja seu papel e abrace a novidade, já que ela é um
fato real.
E, independentemente de sua posição no organograma, busque oportunidades de encontrar o seu caminho e até de
liderar nos momentos difíceis.
o medo da demissão às vezes leva o profissional a tomar as decisões
erradas. Cautela sempre é bom, mas você precisa saber calcular riscos e
assumir responsabilidades. Quem lidera precisa fazer muitas escolhas,
mas quem atua em equipe também faz as suas.
Esquivar-se delas, fugir à responsabilidade e buscar apenas as
alternativas isentas de risco torna você um integrante preferencial na
lista dos que serão descartados em qualquer corte, pois sua ausência
fará pouca diferença ou falta.
É melhor correr um pouco mais de riscos, bem calculados, e assim
poder ser visto como peça-chave na hora em que alguém for escolher onde o
facão vai passar!
por
Augusto Campos